Por Jéssica Sillva
Caro, leitor. Isso é novidade para mim também. Um espaço só nosso para compartilhar os desafios e a visão do lado de cá. Da mãe que espera, na sala de espera. Quem poderia imaginar? Me formei em duas graduações, vieram diplomas e certificados, mas nenhum me preparou para enfrentar o mundo. O meu mundo. Me descobri médica, fisioterapeuta, pedagoga, TO, num piscar de olhos. Aprendi a fazer o que faço, fazendo. Pode até não parecer, mas o jeito que eu faço, se encaixa perfeitamente no meu eu, em nós. Quem diria que me transformaria em alguém capaz de enfrentar o tão assustador desconhecido, o Autismo.
Me descobri, me reinventei, me virei de ponta cabeça para me tornar uma mãe diferente, a mãe que vem se encaixando muito bem aqui. A mãe defensora da causa. A gente se descobre ao defender o meu, os nossos. Toda mãe de autista enfrenta tudo, e todos, pelo bem dos que ainda não são ouvidos. Posso até parecer a mãe que “não controla” o filho, que “não se dedica” a oferecer comidas novas, a mãe “que não sai de casa”. O ‘parece’ é tão perigoso. Em terra de quem sempre se acha no direito de apontar, julgar, dar opinião, quem vive o que você acha que sabe, tem um grito entalado na garganta, e a vontade de, desculpe a expressão, esfregar na cara da sociedade, que existem camadas a mais que ninguém vê.
São camadas que uma mãe atípica tem, além das que já vem junto com o filho, e que talvez você mãe típica não entenda o que escrevo, mas atípica, sim. Não estou aqui para transformar este lugar como um muro de lamentações, cheguei aqui para te apresentar o nosso lado. Sou a mãe que é admirada por parecer guerreira, mas ninguém está preparado para a guerra que enfrentamos. Ninguém está pronto para tomar o meu posto. A guerra, que vos falo, me afastou de pessoas e me apresentou outras. Chame do que quiser, do que você acredita. Para mim, Deus, para você, destino.
Falando em destino, ele preparou em detalhes que eu, de alguma forma, pudesse colocar entrelinhas, o dia a dia e sentimentos que muitos não conseguem colocar para fora. Cada ponto e vírgula, uma lágrima, nem sempre de alegria, as vezes de exaustão, mas sempre de um dia vencido, afinal, é uma batalha diária. Vi meus textos tocarem pessoas que eu nem conhecia. E derreter em lágrimas pessoas que dividem comigo, a experiência de ter um anjo na terra para cuidar. Quando escrevo, sempre me faltam palavras e me sobra insegurança. Me coloco no lugar de quem está lendo. Será que a mãe atípica se enxergará aqui? Será que quem não é vai entender? Me proibi de enviar os textos para pessoas próximas validarem. Elas sempre choram.
Pude entender que o dia de uma mãe atípica, é uma gota de cada vez, num copo. O nosso copo pode não estar cheio. Mas quem disse que eu tenho pressa? O copo está aqui, e tô enchendo ele como uma torneira que pinga. E um dia, esse copo transbordará.. E eu? Vou deixar que derrame e inunda. Serão dias difíceis, e teremos dias que não será fácil, mas todo dia vencido, valerá a pena.
Parabéns,Jéssica, pela iniciativa de expor seus sentimentos e sua experiência.
👏👏👏
Parabéns !!! louvável sua atitude , para muitas mulheres atípicas a maior guerra que enfrentam são seus sentimentos , e muitas vezes o silêncio e o choro é um grito de socorro. Sua palavras torna-se uma referência!!!! continue sendo essa voz .
Voa menina! Vc vai muito longe acredite sempre no seu potencial!🙌🏾👏🏾😍
Muito bom, parabéns Jé, muita luz nessa jornada de mãe e escritora, Deus abençoe vc e siga firme
Parabéns Jéssica! Todo meu respeito e admiração pelas Mães Atípicas, muito se fala sobre as crianças e seus diagnósticos, mas pouco se fala sobre quem cuida e tem toda a carga emocional para lidar. Que este espaço seja de partilha, de informação, de sororidade e amor para com quem cuida! Um grande e carinhoso abraço!
Parabéns pela sua iniciativa.
Te conheci hj, vi uma pessoa simples humilde e carissismatica, onde temos em comum a mesmas lutas, ninguém está preparado, para o autismo e o preconceito dentro e fora de casa.