E esse fardo ai… Quem carrega?

TAL MÃE TEA FILHA últimas

Por Jéssica Sillva | Instagram: @eujessicasillva

Sinto que tenho carregado mais que suporto. Seja trabalho, o ‘ser mãe’, ou culpa. Estou num trabalho árduo de provar para mim mesma que eu posso, eu consigo. Mas até quando eu vou continuar testando os meus limites para provar que estou suportando? Não há nada de mais não conseguir. Estou colocando aqui o que vivo, e vivo constantemente tentando me provar, ou mostrar para os outros, que nem pagam as minhas contas, que eu posso. Ontem, eu quase não pude.

Querem concentração e equilíbrio, seja qual for, de pratos ou sentimentos. Não sou desequilibrada por surtar com coisas pequenas, é que amontoei pratos, deixei para depois, e que se tornaram insustentáveis de segurar e agora pesou. Desculpa, mas acabei quebrando alguns. Eu e essa mania de me desculpar com as pessoas que nem mesmo equilibram seus danos e despejam em mim. No final, acabo sentindo a culpa que nem era minha.

E é assim que me sinto, um eterno equilibrar de atos, e ainda vejo que tento manter um pouco de sanidade que me resta, para ser usada depois do meu expediente profissional. Ainda tenho trabalho, penso assim sempre que chego em casa. É como eu lhe contei da última vez, não deixar que a minha tempestade molhe quem ainda depende de mim. E ontem, eu não deixei que me alagasse. Foi por pouco.

Como se já não fosse o suficiente, me vejo abraçando mais coisas para carregar. Aparentemente tenho o péssimo defeito de angaria tudo, mesmo tendo braços pequenos. O que não quer dizer braços curtos, no sentido figurado. Desenvolvi uma habilidade de aprender tudo o que sei, na necessidade. Sempre que precisavam de algo e não havia alguém ali para suprir, sempre digo que posso mesmo não sabendo fazer, mas vou aprender.

Aprendi com o meu pai que tenho que me descrever como “Alguém que tem uma mar de conhecimento, com um palmo de profundidade”, aprendi tudo o que sei, fazendo. Aprendi a ser mãe, sendo. Aprendi a ser mãe atípica, depois do diagnóstico. São as necessidades que me fizeram ser quem sou. E quantas necessidades a gente nem imagina que você passou para se tornar quem é? Ninguém está pronto para enfrentar o que você enfrenta, eles não suportariam o peso dos pratos.

Ontem mesmo enquanto atendia, pude acolher uma mãe que no seu momento de não saber o que fazer, em meio aos gritos e o desespero da filha e que na qual não conseguir acalentar, tentava me dizer o que precisava. Naquele momento pedi que se sentasse e que eu iria escutar, e sem pressa poderia acalmar a sua filha. E eu e minha predisposição em olhar além da tela do computador, pude ver ali uma criança atípica, mas sem diagnóstico. É como se eu estivesse olhando para outras mães que conheci, até mesmo me vendo ali, antes do diagnóstico da minha filha, e de outros tantos filhos de mães recém tornadas atípicas.

Quando a filha aplacou, foi imediato, a mãe chorou. Sem esforço nenhum, as lágrimas desceram. E eu vi alguém que precisava falar, ou apenas chorar. E o fardo que ela tem carregado? Tem alguém que a ajude a levantar? E os pratos que equilibra enquanto lida com o que nem conhece? Ela me confidenciou que a filha está em investigação: “Dizem que ela tem esse negócio de autismo”. Essa frase ecoou na minha cabeça. Como o desconhecido assusta ainda mais quem não tem acesso a uma orientação digna. Disseram a ela, mas não explicaram. O quanto mais essa mãe se sobrecarregará para aprender a lidar com as necessidades da filha? O Autismo bate muito mais em uma mãe sobrecarregada, atípica, que corre sozinha, equilibrando pratos, com a filha no colo e na contramão.

3 thoughts on “E esse fardo ai… Quem carrega?

  1. Parabéns…por colocar as palavras corretas e os sentidos e sentimentos no prato. Pois além de fazermos dupla jornada temos as vezes que aprendermos a lidar com o desconhecido, as incertezas, e muitas das vezes o abandono, as tristezas
    .

  2. Como diretora de escola, conheço o problema , o importante é a mãe ter um suporte psicológico e conhecimento de como lidar com a sua criança e se relacionar com outras mães para saber que não está sozinha nesta difícil tarefa de ser mãe atípica. Calma, respire e siga o amor supera tudo.

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