Por Jéssica Sillva | Instagram: @eujessicasillva
Semana passada ouvi que pareço ser uma pessoa que não chora. Meus Deus! Eu sou tão “choro fácil”. Só aprendi a disfarçar bem quando a vontade vem. Há tempos tenho procurado referências e indicações de séries ou filmes para assistir, que tenham relação e que exemplifiquem o que vivo, e assim aprender como lidar melhor com a minha filha, com suas necessidades e o que fazer diante das crises.
Para quem também procura, indico “As mães dos Pinguins”, chorei já no primeiro episódio. Kamila é uma boxeadora famosa, e tem um filho de sete anos que está no espectro autista. Ela passa por todas as fases até o diagnóstico. Vi-me muito nela. Estranho é pensar, e ainda mais dizer, que não me enxergava assim. Ela justificava as características específicas do filho como sendo uma criança individualista. Muitos o enxergavam assim, mesmo observando o hiperfoco, ela dizia não ver nada de mais nele.
Essa negação transcendeu no trabalho, na vida social e psicológica. O sentimento de se sentir uma péssima mãe foi tomando o lugar de confiança que ela sempre teve. As vezes o mais difícil para as crianças, são as expectativas dos pais. Idealizamos uma vida, que não temos o total controle. Na série é mostrado que os pais precisam entender e respeitar o tempo. O tempo da criança.
Apresento um exemplo bem real que vivi. Minha irmã resolveu presentear a minha filha com uma bicicleta, eu disse que achava desnecessário, já que ela não sabia pedalar. A referência que eu tinha, é que a minha filha não sabia pedalar a “motoca”. Eis que no fim, ela ganhou a bicicleta. Chorou, não quis nem olhar para o presente, muito menos subir e pedalar. É difícil lidar com o novo. Ela não aceita muito bem novidades, mudança. O pensamento veio como que instantâneo; “EU AVISEI”. Por mais que eu fale sobre entender que tudo é no tempo dela, confesso que nem passou isso pela minha cabeça na hora. Duas horas depois, com a bicicleta na sala, visível aos olhos e fácil acesso, minha filha subiu e começou a pedalar. Chorei.
A família, que nem sempre é a rede de apoio, fica bem representada na série, eles dificultam a vida de quem já aceita o diagnóstico, tanto quanto quem ainda não acredita que o filho tem uma condição, seja ela qual for. Assisti ali uma avó que sente vergonha da neta ‘Ella’, do marido que só sabe exigir mais atenção e cuidado, mas não enxerga o que a esposa, Tatiana deixou na gaveta, a vaidade e o cuidado próprio para que consiga manter o filho vivo. Quando falo que a série mostra várias faces, deste mundo atípico, conhecemos mães que se dedicam, se abdicam de suas vidas para viverem a de seus filhos. Elas se ajudam, ajudam a Kamila. Me ajudaram. A necessidade faz a força.
Mães se apoiam, inclusive no momento do “cair a ficha”. É doloroso, exaustivo, um caminho árduo, mas necessário. A troca de experiência nos ajuda a lidar com o nosso próprio processo de entender, aceitar e agir. Kamila, a boxeadora, entendeu que o seu filho precisava de apoio. Mas o grupo de mães foi essencial pra ela, ajudaram a enxergar o filho, os seus limites e as necessidades. Entendeu que, como mãe e figura pública, podia mais e ela era o suficiente para ele. Só bastava aceita-lo do jeito que ele é. Um spoiler… O mundo da deficiência é assustador, mas não é o fim.
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