Por Jéssica Sillva | Instagram: @eujessicasillva
Vocês não imaginam o quanto eu me sinto em paz, toda vez que me “livro” da minha filha ao entregar ela para mais um terapeuta. Sinto que este é o meu momento. Meu momento de paz. Posso fazer o que eu quiser, aproveitar esses momentos para ser livre. Acho que é bem assim que o ministro Saldanha pensa sobre nós, mães e família atípica. Em sua infeliz declaração, na última semana, ele expos uma opinião que está bem longe da realidade. Posso declarar com a certeza, que ele acha que tem, que a terapia, na qual, a minha filha é exposta, é tudo, menos um passeio na floresta.
Há algumas semanas escrevi sobre o “poder” e o “estar” do outro lado da mesa. O poder de fazer, e o caos que se pode causar estando do outro lado.
A visibilidade e a responsabilidade que se tem ao ocupar um cargo com uma superexposição, te faz enfrentar situações quando se toma uma posição. Existem reações de cada ação realizadas e que são causadas por falas desconexas e baseadas na falta de informação. Uma fala descadaramente protetiva aos convênios e prejudicial aos que pagam pelo serviço. Por um simples jogo de interesses, em que se beneficia o grande para prejudicar o pequeno.
O ministro Antonio Saldanha, do STJ, falou como se tivesse propriedade e conhecimento da causa. Ele ocupa um cargo com visibilidade, e em um evento do Conselho Nacional de Justiça, usou do jeito errado o seu poder de fala, para proferir de forma pejorativa, que nós, ao deixar nossos filhos na terapia, nos livramos deles por 6 ou 8 horas para passear na floresta. Seria incrível que ele pudesse conhecer esta floresta, lá ele encontraria o que há de melhor em nossos filhos, que ele denomina como uma criança com problema.
Como já disse aqui, por diversas vezes, a falta de informação é o problema. Seja em qualquer assunto. O ministro foi infeliz em suas falas, e ainda colocou em prova laudos e diagnósticos, e que todo mundo pode, inclusive ele, “ter o fator de autismo”. Vejo um problema aqui. Enxergo problema quando visam o autista como alguém totalmente incapaz, um gasto a mais ao convênio. O ministro se refere ao autista como um “custo” ao convênio e as clínicas, e que é preciso enfrentar isso. Enfrentar o que necessariamente, Ministro? Enfrentar, segundo o dicionário, significa pôr ou colocar(-se) diante de; defrontar; Encarar sem medo; combater. Posso enumeras vários momentos em que nós, mães atípicas enfrentamos, combatemos e encaramos sem medo, o que o Senhor Magistrado, não conseguiria por 24 horas.
O ministro mostrou um grande capacitismo, principalmente ao mencionar a Lei 14.454, a Lei Romário, e culpa esta lei por proliferar laudos técnicos, sem base em evidência na medicina. As leis são feitas para que tenhamos direitos e que assim sejam cumpridas. Se há, é porquê foi necessário que existissem. Não estou aqui para brigar por algo que não é de direito da minha filha autista, estou para que seja cumprido, e de forma digna, o direito dela. Se pago pelo serviço, quero que seja entregue o que é meu por direito. Se a minha filha tem direito a terapia, então ela terá. O processo da terapia começa com a construção de confiança, e isso leva tempo. Eu não confio nas pessoas que acabei de conhecer. O que faz a terapia ter resultado, é o comprometimento do terapeuta e a aproximação que é permitida pelo paciente. É uma construção de confiança. Porque até passar passear na floresta, eu não iria sozinha. E sim com alguém de confiança.
Parabéns pelas palavras sábias. Como sempre,seus textos são perfeitos.
Se nos calarmos diante da opressão,seremos escravos permanentes.
Beleza de texto. Você é muito especial.
Excelente ponto de vista. Veja quem indicou o ministro Saldanha ao STJ ….?
A propaganda e o populismo seguem mandando no Brasil